sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Trabalho em Sociedade

Em 1985, praticamente havia concluído o curso de pintura da EBA, restando apenas cursar algumas disciplinas complementares para poder me formar. Por esta época comecei a trabalhar em restauração de obras de arte, para conseguir algum dinheiro, inicialmente num estágio remunerado no Museu da República e depois como contratado em outros empreendimentos nesta área (até hoje trabalho, eventualmente, nesta área, sozinho, com minha esposa ou em equipe).

Por não estar mais frequentando a EBA diariamente, não pude mais trabalhar na sua Oficina de Cerâmica, que nesta ocasião passava por reformulações, com a aposentadoria da antiga professora Geni. Por este motivo fiquei uns três anos sem modelar qualquer peça, me dedicando apenas a concluir o curso de Pintura, ganhar "algum" como restaurador e, principalmente, a pintar meus quadros e fazer minhas xilos, agora no "ap" que alugara com minha futura esposa, a Bete (também formada na EBA e totalmente dedicada à restauração).

Mas em 98 comecei a sentir uma "coceira" nas mãos pela falta de contato com a argila; por este motivo comprei mais barro e voltei a modelar. Inicialmente fiz pequenas peças coloridas com engobe, mas o problema era aonde queima-las, já que o forno da EBA não era mais facilmente acessível para mim. Foi quando um antigo colega me apresentou a um ceramista japonês, conhecido como San, dono de um atelier em Laranjeiras (RJ), que poderia queimar as minhas peças.

Isto foi ótimo, e lá fui eu com meus vasinhos coloridos, de carona com meu pai, que me ajudava muito, inclusive carregando minhas bugingangas em seu carro quando tinha um tempo disponível (fundamental personagem em minha vida, o Dr. Ermenegildo, nunca o homenagearei o suficiente). Chegando lá, o San, muito solícito, aceitou imediatamente incluir minhas peças em suas queimas de biscoito e, a partir deste contato, surgiu uma forte amizade (temperada com alguns desentendimentos) que durou até seu retorno ao Japão em 1992.

Em breve me tornava sócio do San. Então, entre 1988 e 1991, trabalhei em seu atelier, trocando informações, dando minhas primeiras aulas, dividindo despesas e passando por inúmeras experi ências muito curiosas, entre elas a de criar peças a quatro mãos, tanto com o San quanto com o Henrique, um músico-ceramista, que também frequentava o atelier.

Para ilustrar o início desta história, vou postar alguns exemplos dos trabalhos que fazia então, por volta de 88, 89 e 90. Acredito que alguns destes vasinhos estão entre os primeiros que queimei no forno so San.
















Todas estas peças foram modeladas com uma variação da técnica dos "cordões", são coloridas com engobe (espécie de tinta para cerâmica, feita com argila branca - barbotina - e pigmentos minerais ou "BVs" - baixos-vidrados; a aplicação é a pincel e a queima é de baixa temperatura, de 800° a 1.000° C) e recebem acabamento a frio, feito com verniz vinílico e camada final com cera polida.

O estilo de sua decoração e suas formas demonstram a influência das artes "ancestrais" (étnicas, "primitivas", rupestres etc.) que então eram a fonte de inspiração para meus trabalhos de uma mneira geral, fossem eles de pintura, xilo ou cerâmica (sobre este tema ver a postagem mais recente do meu outro blog: http://ricardarte.blogspot.com) .

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