quinta-feira, 21 de agosto de 2008

As Afrodites - 2001

As Afrodites – 2001.

Em meados da década de 90, apesar de estar de posse do meu primeiro forno, que tinha um bom tamanho, comecei a diminuir o ritmo na produção de novas peças. Em parte porque estava produzindo bastante pintura e também porque havia iniciado a minha primeira experiência como professor no Curso de Pintura da EBA/ UFRJ, o que não me deixava muito tempo para trabalhar em casa. Por outro lado, com advento do governo Collor e o arraso que ele promoveu de um modo geral e especialmente no meio cultural, as vendas no Rio de Janeiro estavam fraquíssimas, com lojas de decoração e galerias de arte fechando suas portas aos montes.


Contudo, por essa ocasião (entre 95 e 97) recebi uma grande encomenda de peças de cerâmica (vasos, bonecas e placas) da loja de decoração e arte Artmosphere, que fica em Palm Beach (USA). E por isso pude produzir para eles cerca de 250 peças. Foi uma experiência bastante interessante, que viria a ter bons desdobramentos futuros (alguns dos conjuntos de vasos e bonecas publicados antes das duas postagens sobre máscaras, fazem parte do conjunto de peças enviadas para a Artmosphere).

Depois deste trabalho, pelos motivos expostos acima e por alguns outros, fui parando com a cerâmica. Até que em 98, ao ser obrigado a mudar para uma casa muito pequena (saí de um sobradão em Benfica e fui para uma casa de vila em S. Cristóvão), tive que abrir mão do meu forno, com muita tristeza, e deixar de produzir minhas peças por três longos anos. Só retomaria a cerâmica, e com um novo forno, a partir de 2001, já morando em Niterói.

Mas antes disso, em 2000, o Marcel, um dos sócios da Artmosphere, veio ao Brasil, comprou algumas pinturas minhas e me pediu que fizesse novas cerâmicas para ele. Disse-lhe que não poderia aceitar a nova encomenda porque já não tinha um forno para queimar as peças, o que ele lamentou. Um ano depois, liguei para ele e sugeri que investisse em meu trabalho, comprando um novo forno para mim, o qual seria pago através de peças exclusivas para a Artmosphere. A proposta foi aceita imediatamente e, assim, pude comprar meu segundo forno elétrico, desta vez com manta refratária e um ótimo controlador eletrônico de queima.

O forno chegou em minha casa, em Niterói, em Março de 2001 e foi instalado em abril, depois que mandei colocar um relógio trifásico na residência. Desta forma pude iniciar os primeiros testes, mas quando estava quase pronto para iniciar as novas peças, o Marcel me ligou para me fazer a maior encomenda de pintura da minha vida, a qual aceitei de imediato, tendo por isso que parar o trabalho com a cerâmica (a história desta super encomenda de pintura está relatada no meu outro blog: http://ricardarte.blogspot.com/).

Quando finalmente terminei as 144 pinturas encomendadas pelo Marcel para o hotel Pelican Bay nas Bahamas, após enviá-las por via marítima para os Estados Unidos (num processo que durou aproximadamente 6 meses - 4 para pintar e dois para enviar), pude finalmente retomar a cerâmica. Os primeiros trabalhos (fora alguns testes que não deram certo) foram esculturas em argila creme e sem pintura, queimadas a 1200° C, intituladas de “Afrodites”. São pequenas figuras femininas, inspiradas nas “Vênus Rupestres”, ou “Esteatopígias”, feitas pelos nossos ancestrais da Pré-História, que muito provavelmente estão relacionadas com rituais de fertilidade, dado o exagero com que seus órgãos reprodutivos foram modelados. As minhas versões destas curiosas e belas mulheres também são exageradas, porém busquei dar-lhes um pouco de humor e suavidade. Todas foram colocadas sobre bases de madeira bem escura, destacando-se bastante por possuírem uma cor clara. Enfim, trata-se de mais um tributo meu à arte dos nossos antepassados. Vamos a elas.








Estas esculturas têm, quase todas, 22 cm de altura, contando com sua base.

Curiosamente, há pouco, no carnaval deste ano de 2008, quando fui a Trancoso, na Bahia, passear com minha esposa e filha, encontrei na praia um pedaço de coral que me lembrou muito estas minhas "Afrodites". Por conta disso, como artista contemporâneo que sou, me "apropriei" desta criação da natureza, dando-lhe o nome de "Afrodite de Trancoso".
Aí está ela em dois ângulos ligeiramente diferentes.:


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